Gestão financeira transforma produtividade em lucratividade

A mesma complexidade das demais atividades econômicas como indústria e venda de bens e serviços existe também na agricultura.

Hoje, mais do que nunca, o produtor rural conta com uma ampla gama de recursos externos para realizar sua atividade econômica, que abrange tecnologias em insumos e máquinas e também a prestação de serviços especializados.

Porém, a mesma gama de itens de apoio à produção que permite com que ela alcance altas produtividades eleva o custo da produção, colocando a lucratividade em risco.

Nessa matéria, vamos analisar como a gestão financeira da atividade agrícola é fundamental para que altas lucratividades nos sistemas agrícolas sejam atingidas.

O objetivo de toda atividade econômica é o lucro.  A ideia central é realizar uma atividade que gere um produto a ser vendido cujo custo de produção seja menor do que o valor recebido com a venda.

A fórmula para calcular o lucro é a seguinte:

Lucro = Receita Bruta – Custo de Produção

A Receita Bruta é o produto da quantidade produzida pelo valor pago por unidade de produção, por exemplo: sacas de grãos ou toneladas, no caso do algodão.

Nas grandes culturas, como soja, milho e algodão, o preço pago pela produção é dado pelo mercado e o produtor não tem poder de alterar o valor do que produziu. É a classe de produto conhecida como commodity. A maioria das culturas agrícolas anuais, como grãos e cerais, são consideradas commodities.

Como o produtor de culturas anuais não tem poder sobre a formação do preço da sua produção, resta a ele cuidar rigorosamente do item Custo de Produção para garantir uma lucratividade satisfatória.

Planejamento financeiro

Dado o panorama de lucratividade da agricultura, que é formado pelas condições de não participação da formação do preço do produto, flutuação do preço a ser recebido, necessidade de investimentos iniciais de longo prazo em estrutura de produção e de curto prazo em insumos para cada safra, é fundamental um planejamento financeiro adequado, que represente, de forma realista, as previsões de custos e recebimentos da atividade a ser exercida.

O planejamento financeiro deve ser elaborado com base em informações confiáveis, extraídas de séries históricas de levantamentos de custos de investimentos e em projeções realizadas pelos institutos públicos de economia, que possuem as metodologias e estrutura para fazê-los e publicá-los de modo especializado.

A elaboração do planejamento financeiro exige mão-de-obra experiente para que as características do sistema em questão sejam devidamente atendidas, levando em conta as especificidades de cada área, como os recursos disponíveis, as características agronômicas da área, o nível técnico desejado, a quantidade de dinheiro a ser investida e a taxa interna de retorno sob o investimento esperada.

No planejamento financeiro, serão determinados os parâmetros técnicos, financeiros e econômicos que darão norte às atividades a serem desempenhadas nos próximos anos. A partir dessa etapa é possível fazer os levantamentos de preços de cada item de produção necessário para atingir o resultado esperado. Assim é possível então elaborar a Estrutura de Custos do sistema produtivo.

A Estrutura de Custos é a principal ferramenta na gestão de custos, portanto, na gestão da lucratividade.

Em 1976, o Instituto de Economia Agrícola (IEA) do Estado de São Paulo, publicou uma Metodologia de Custo de Produção escrita por seus pesquisadores (Matsunaga et al. 1976), que passou a ser utilizada como referência por diversas instituições de pesquisa de administração pública.

Essa proposta veio com um sistema de classificação de cada item de produção e um método de processamento destes valores, visando atender as demandas agronômicas e financeiras do sistema, permitindo obter uma série de indicadores de desempenho econômico que funcionam como se fossem um exame detalhado dos resultados obtidos em campo.

É uma metodologia que permite analisar, de modo extenso e profundo, os dados do sistema, permitindo ao empresário agrícola ter uma compreensão ótima da contribuição de cada fator de produção no resultado final e também o permite alterar os itens que estiverem com desempenho abaixo do seu potencial.

Após a realização das etapas de organização descritas acima, a tarefa do produtor é fazer a correta gestão dos custos, de modo a garantir que cada centavo utilizado traga o máximo de retorno econômico, aumentando sua lucratividade.

Se por um lado investir em recursos é fundamental para o sucesso da atividade, investir sem o devido cuidado pode inviabilizar todo um ciclo produtivo ou até mesmo todo o horizonte de investimento. Um exemplo importante disto é a decisão de se investir ou não em um sistema de irrigação.

A locação de recursos é, portanto, uma das mais importantes tarefas da gestão financeira da atividade agrícola.

Outra importante tarefa é a redução de custos. Com base na Estrutura de Custos e na experiência, o produtor deve, constantemente, verificar quais itens são realmente indispensáveis para sua atividade, eliminando aqueles que puderem ser retirados do sistema, para que o custo de produção seja o mínimo possível, resultado em uma maior margem de lucro

Implantar um sistema de gestão agrícola eficiente pode ser trabalhoso inicialmente e levar algum tempo para estar efetivamente pronto. Porém, esse trabalho é recompensado com os benefícios desta organização, que geram maior lucratividade e tranquilidade.

A tranquilidade vem e não é por acaso. Realizando uma boa gestão, os problemas são antecipados, todos os fatores de produção são colocados sob os olhos do gestor, todas as tarefas e compras são planejadas antecipadamente e passa a ser possível decidir sobre práticas agronômicas de acordo com os objetivos financeiros.

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