O empresário rural só conseguirá alocar de forma correta seus investimentos caso haja conhecimento dos componentes dos seus custos de produção aliado à uma análise de riscos. O levantamento de custos é uma importante tarefa para auxiliar na administração da empresa agrícola.
1- Grandes cifras vêm com grandes desafios
O VBP é um indicador de desempenho da agropecuária, considerado também um indicador do faturamento, sendo obtido pela multiplicação da quantidade produzida pelo preço recebido pelo produtor.
As exportações do Agronegócio no acumulado do ano – janeiro a maio – foram de US$ 41,9 bilhões, representando quase a metade das vendas externas do país. Os principais embarques foram o complexo soja (grãos, farelo e óleo) e as carnes (bovina, suína e de aves). O valor representa alta de 7,9% em relação ao quadrimestre no ano passado.
Além dos recordes de produção e exportação, o setor também se supera no mercado futuro: A Datagro estima que a comercialização da safra de soja 2020/2021 do Brasil, que começa a ser semeada neste mês (setembro, 2020), já atingiu 46,7% da produção, ou 61,45 milhões de toneladas. “O comprometimento da safra nova supera o último recorde do mesmo período do ano anterior (24,5%), além de 2016, com 21,8%, e a média de cinco anos (22,1%), acompanhando cenário favorável de preço nas últimas semanas”, diz consultoria em nota.
O setor agropecuário brasileiro vem assistindo ano após ano, a superação dos próprios recordes a cada nova safra. O levado potencial produtivo de muitas regiões brasileiras, a crescente demanda mundial por cereais, fibras e oleaginosas devido ao crescimento populacional e o leque de tecnologias de produção disponíveis compõe um cenário muito animador para os investidores do setor, novos ou já experientes.
2 - Sem tecnologias, sem recordes.
Como o aumento da produção é maior do que o aumento de novas áreas agrícolas, o principal motor desta sequência de recordes são as tecnologias, que permitem produzir mais num mesmo espaço. ¹Aumentar a produtividade é um desafio técnico e exige a especialização da gestão da atividade por parte do produtor. Tudo se inicia com um planejamento estratégico baseado em: avaliação da eficiência de cada prática agrícola realizada, estrutura de custos realistas e bom histórico de dados que correlacione fatores que podem interferir na quantidade de produção e no valor pago pelo mercado ao produto.
Sendo assim, escolher o material genético mais adequado, adotar diagnósticos avançados em nutrição de plantas, buscar tecnologias de monitoramento de pragas e doenças, escolher os melhores adubos e defensivos assim como tecnologias de aplicação insumos são tarefas intimamente relacionadas com o aumento da produtividade, com o lucro e com a rentabilidade da atividade agrícola e devem ter espaço garantido na agenda do empresário agrícola.
Porém as melhorias que tornam possíveis o aumento da produtividade também deixam os custos de produção bastante elevados. Custos de produção elevados aliados à sazonalidade dos preços de comercialização e fenômenos incontroláveis que podem prejudicar a produção ou o preço do produto, fazem com que hajam riscos relativos à recuperação do capital investido, levando o produtor a encarar sua propriedade como uma empresa rural.
3 - Novas tecnologias, novas complexidades, novos desafios: nasce o Empresário Agrícola
Os negócios agropecuários revestem-se da mesma complexidade, importância e dinâmica dos demais setores da economia (indústria, comércios e serviços), exigindo do produtor rural uma visão ampla e profunda da administração dos seus negócios. Assim, é notória a necessidade de abandonar a posição tradicional para assumir o papel de empresário rural, independente do tamanho de sua propriedade rural e do seu sistema de produção Yamaguchi; Carneiro, 1997) direcionando seu trabalho para otimização constante do funcionamento da empresa.
Toda propriedade rural deve ser encarada como uma empresa, cujo objetivo principal é gerar lucros. O preço bruto do que foi produzido é dado pelo mercado e o lucro obtido pela diferença entre o preço estipulado pelo mercado e os custos e despesas. Isso gera a necessidade de controle nos elementos de custos e despesas para que se possa atingir maior margem de lucro. A falta desse conhecimento acaba provocando decisões arbitrárias, que podem comprometer a sobrevivência de uma empresa.
Neste contexto, o empresário rural só conseguirá alocar de forma correta seus investimentos caso haja conhecimento dos componentes dos seus custos de produção aliado à uma análise de riscos. O levantamento de custos é uma importante tarefa para auxiliar na administração da empresa agrícola. Porém a complexidade dos sistemas de produção tornam o levantamento de custos uma atividade difícil de ser executada pelo produtor, principalmente para grandes sistemas de produção.
Diante da necessidade crucial de conhecer minuciosamente os custos de cada item do seu sistema produtivo, da complexidade de realizar essa atividade e principalmente de interpretar de modo técnico os valores obtidos pelos indicadores econômicos da sua empresa, cabe ao empresário rural buscar o auxílio de empresas que se especializaram neste tipo de atividade. Desta forma o empresário poderá contar com um exame detalhado periódico de sua empresa agrícola podendo comparar cada custo real com o que foi planejado e assim tomar decisões bem orientadas, garantindo resultados efetivos.
4 - Conheça o que é trabalhado na Consultoria Financeira
O primeiro trabalho de um empresário é elaborar um Planejamento Estratégico para sua empresa. A elaboração de um Planejamento Estratégico exige da empresa: a) conhecer seus custos e despesas minuciosamente; b) conhecer os fatores que realmente causam suas variações e; c) desenvolver relatórios que contenham indicadores econômicos relevantes para tomada de decisões em direção às metas pré-estabelecidas.
Então, como atividade central do empresário, temos o levantamento de custos. A finalidade do levantamento de custos é atender duas importantes tarefas: a gestão da atividade e a tomada de decisão.
Como ferramenta de gestão, sua missão é fornecer dados para o estabelecimento de padrões e orçamentos, servir de comparação com o realizado ao longo do tempo, visto que gestão significa conhecer a realidade, compará-la com o que se esperava obter, localizar divergências e tomar medidas visando sua correção.
Como ferramenta de tomada de decisão, sua missão é gerar informações relevantes, no que diz respeito às consequências de curto e longo prazo das alternativas de escolha da empresa, tais como a escolha de variedades, época de plantio, o número ou o momento de aplicação de defensivos, a irrigação, dentre outros.
4.1 Tudo do seu devido lugar: a estrutura dos custos
Custo de produção: conjunto de todas as despesas que devem ser suportadas para obtenção dos produtos (Valle, 1987) e ele pode ser separado entre custos fixos e custos variáveis (Hofer 2006). A partir dos coeficientes técnicos é possível realizar a Análise de Rentabilidade, calcular a Margem de Contribuição Por Unidade e o Ponto de Nivelamento da atividade em questão.
– Custos variáveis são aqueles relacionados diretamente com a quantidade produzida. Quanto maior a quantidade a ser produzida em um determinado período, maior será seu consumo.
– Custos fixos: são os custos não influenciados pelo volume de produção em um determinado período de tempo (Martins, 2003).
A ausência de uma padronização da estrutura do custo de produção torna sua elaboração desafiadora ao empresário agrícola. Entretanto a metodologia do custo operacional de produção de Matsunaga et al. (1976) é amplamente adotada por institutos de pesquisa como o Instituto de Economia Agrícola e outras inúmeras instituições no Brasil.
Matsunaga et al. (1976) sugerem que sejam considerados os seguintes coeficientes técnicos para levantar os custos de produção de uma atividade agrícola:
Despesas com operações (A): para cada operação devem ser levantadas as horas de trabalho gastas, os salários da mão-de-obra comum ou diarista e de tratorista e as maquinas e implementos usados nas culturas exploradas (para etapas mecanizadas)
Despesas com operações realizadas por empreita (B): serviços contratados (terceirizados).
Despesas com material consumido (C): insumos utilizados na produção, tais como corretivos, adubos, sementes e defensivos
Custo operacional efetivo (COE): corresponde à somatória das despesas de custeio efetivamente desembolsadas pelo produtor, que compreende as operações agrícolas (A), de empreita (B) e material consumido (C)
Custo operacional total (COT): obtido pela somatória do COE acrescido de outros custos operacionais, como depreciação pelo método linear, outras despesas e juros de custeio. COT é aquele custo que o produtor incorre no curto prazo para produzir, repor máquinas e implementos e continuar produzindo.
A Análise de Rentabilidade consiste na comparação da receita com o custo de produção. O conceito mais usado é a receita média ou preço por unidade de produto.
– Receita apresenta o resultado da atividade em valores monetários.
– Lucro ou receita líquida é a diferença entre as receitas e os custos, podendo ser total, para toda a produção ou médio, por unidade de produto (Reis, 1997).
Receita Bruta (RB): Obtida através do resultado da multiplicação do seu preço unitário pela produtividade em sacas por hectare durante a safra.
Lucro Operacional: Obtido pela diferença entre a receita bruta (RB) e o custo operacional total (COT) por hectare. Mede a lucratividade da atividade no curto prazo mostrando as condições financeiras operacionais da atividade agrícola.
Índice de Lucratividade (IL): Relaciona o lucro operacional (LO) e a receita bruta (RB) em porcentagem. É uma medida importante da rentabilidade da atividade agropecuária, uma vez que mostra a taxa disponível da receita da atividade após o pagamento de todos os custos operacionais, encargos sociais e financeiros, inclusive as depreciações, conforme a formula IL=(LO/RB) x 100.
Ponto de Nivelamento (PN): Definido pela produtividade mínima necessária para cobrir o custo operacional total (COT). Esse indicador permite dimensionar qual produtividade seria necessária para pagar os custos operacionais, considerando o preço unitário de venda do produto, estabelecido pelo mercado e o que sobra para cobrir os demais custos em quantidades físicas.
Preço de Equilíbrio (PE): Calculado pelo preço mínimo necessário para pagar o custo operacional total (COT), considerando a quantidade produzida
– Margem de contribuição por unidade: diferença entre a receita e o custo variável do produto, representando o valor que cada unidade efetivamente traz a empresa de sobra entre sua receita e seu custo. Sua importância se dá no sentido de informar o lucro unitário que cada produto proporciona, fornecendo assim informações importantes ao administrador para a tomada de decisões em aumentar ou diminuir sua produção (Martins, 2001).
– Ponto de equilíbrio: nível de vendas no qual a receita se iguala às despesas e o lucro é igual a zero.
4.2 Indicadores Econômicos: A bola de cristal que permite acertar em novos investimentos
Os indicadores econômicos são números obtidos a partir de cálculos que relacionam de diversas formas as entradas, saídas, taxas de juros em diferentes momentos no horizonte do tempo da atividade (curto, médio e longo prazo) e servem como ferramenta de gestão, possibilitando projetar a viabilidade investimentos, comparar o que está acontecendo ao que foi planejado e também para fazer projeções futuras das consequências dos resultados obtidos no presente.
A decisão de fazer investimentos de capital é a parte de um processo que envolve a geração e avaliação das alternativas que atendam as especificações técnicas dos investimentos. Depois de relacionadas as alternativas viáveis tecnicamente, se analisam quais delas são atrativas financeiramente, por exemplo, por meio de um fluxo de caixa (Sabbag, 2013)
O fluxo de caixa representa as estimativas de entrada (receitas) e saídas (despesas) de recursos monetários em um determinado projeto produtivo ao longo do tempo. A análise do fluxo de caixa de uma propriedade tem por objetivo avaliar os períodos onde ocorrerão as maiores entradas de capital, como os meses de menor saída, proporcionando um melhor planejamento ao longo do ano em relação à distribuição das vendas e dos pagamentos dos insumos agrícolas utilizado nos cultivos (Ballaminut, 2008).
O resultado liquido desses fluxos pode ser calculado subtraindo-se das despesas das receitas. Nesse processo, é usado como referência um único momento no horizonte do tempo para o qual todos os valores são atualizados por meio de formulas financeiras de acumulação ou descontos de juros.
No conjunto de instrumentos que auxiliam da decisão da realização de investimentos os mais utilizados são o payback, o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR), desde que seja discutido um ponto fundamental desta análise, que é a determinação da taxa de juros a ser utilizada (Taxa Mínima de Atratividade) como parâmetro na avaliação econômica, como a taxa Selic, por exemplo (Nogueira, 2007).
Para avaliar a viabilidade econômica dos sistemas agrícolas, o critério de VPL usa o momento inicial do projeto como referência temporal para o cálculo de viabilidade. Como critério de decisão, aceitam-se os investimentos com VPL positivos e rejeitam-se os investimentos com VPL negativo. Buarque (1991) afirma que na comparação entre dois projetos ou alternativas de investimento, aceita-se o de maior VPL. A TIR, por definição é a taxa que torna o VPL de um fluxo de caixa nulo. Desta forma, quanto maior for a TIR de um projeto, mais tangível ele será, pois maior será o retorno do capital investido.
5 - Quanto custa não fazer corretamente a gestão da minha empresa agrícola?
Agora que foram mencionados itens da estrutura de custos e os principais indicadores econômicos podemos tratar da importância da gestão financeira com alguns casos.
Para responder essa pergunta, vamos observar os caso de flutuação do custo operacional e as consequências para quem não faz gestão financeira das atividades da empresa agrícola, publicados pelo CNABrasil em junho de 2019 :
“O aumento dos preços dos insumos agrícolas, principalmente dos fertilizantes, tem elevado os custos de produção da soja para a temporada 2019/2020. Assim, para o produtor brasileiro postergou a aquisição de insumos, visto que no primeiro semestre de 2019, foi registrado o pior poder de compra (soja x fertilizante) das últimas safras. Esse cenário deve reduzir ainda mais as margens de lucro do produtor na próxima temporada. ”
São diversas as fontes de perdas devido a uma gestão ineficiente. Outro exemplo de perdas por falhas na gestão financeira vem da escolha das sementes a serem plantadas: “Quanto a soja tolerante ao glifosato e resistente a lagartas, o Custo Operacional Efetivo (COE) de 2019/2020 em três importantes praças produtoras do Cerrado brasileiro aumentou, em média, 9% em relação à temporada anterior. A elevação nas praças do Sul foi menos intensa, de 6% no mesmo período. O cálculo do custo tomou por base a aquisição dos insumos entre março e maio de 2018 (safra 2018/2019) frente ao mesmo período de 2019 (temporada 2019/2020).
Uma aplicação muito útil dos indicadores econômicos é na aquisição de custeio da produção. Para ilustrar esta aplicação vamos analisar o seguinte caso: “Em Rio Verde/GO o custeio da safra 2019/2020 de R$ 2.863,40/ha, 7% maior que no mesmo período da safra anterior, com os valores dos fertilizantes registrando a alta mais expressiva, de 18%. Neste cenário, com os preços da soja de maio/ 2019 o produtor precisa de, pelo menos 45,5 sacas da oleaginosa (para pagar o COE).
A situação passa a ficar preocupante quando o custo unitário de produção se aproxima muito das produtividades médias da região pois nestas situações, fatores que causem perdas nas safras (clima, pragas, doenças) a margem bruta pode ficar negativa e os produtores ficariam sem receita para conseguir saldar pelo menos o desembolso com a atividade.
Fontes:
https://www.gov.br/pt-br/noticias/agricultura-e-pecuaria
YAMAGUCHI, L. C. T.; CARNEIRO, A. V. Aplicação de planilha eletrônica na análise técnica e econômica de unidades de produção de leite. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFORMÁTICA APLICADA À AGROPECUÁRIA E À AGROINDÚSTRIA, I., Anais… SBIAGRO: Belo Horizonte, 1997. p. 95-99.
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