A safra 2021 já começou, e muitas regiões as plantas de soja já germinaram e estão no início do seu desenvolvimento vegetativo. Além dos produtores, havia uma turma muito ansiosa para ver as primeiras folhas de soja aparecerem: as pragas! É hora de se preparar para o combate!

Devido à semeadura atrasada, a luta contra pragas e doenças da soja deve ser ainda mais acirrada na safra 2021

Lagartas da Soja

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Após o período de estiagem no final do mês de setembro, as operações de semeadura da soja estão progredindo em várias regiões do Brasil, tendo alcançado 56% da área total na última quinta-feira (05/10). Na mesma época do ano passado a porcentagem era de 58%.

Depois de muita preocupação com o atraso no plantio, chegou a hora de finalmente iniciar esta safra, que dentre várias projeções recordes, um já está consolidado: o recorde de comercialização no mercado futuro, da produção que ainda não foi completamente iniciada!

Sabemos que a cultura da soja é exigente em regime de horas de sol para obtermos sua produtividade máxima. Cada dia de sol durante o verão é contabilizado pois sua contribuição no resultado final é muito importante.

Então com este atraso do ciclo produtivo devido à estiagem, é possível que o resultado médio final de produtividade já tenha algum prejuízo, o que vai exigir que o produtor controle o máximo possível os fatores que estão ao seu alcance.

Tendo a cultura em campo já germinada, a principal tarefa do produtor é cuidar dos aspectos sanitários da sua área de produção.

Entre organismos micro e macro, existe uma diversidade de ameaças ao rendimento dos cultivos. O ambiente de monocultivo, associado a solos muitas vezes pobres em material orgânico e estresse ambiental, tornam as plantas suscetíveis a doenças e insetos que usam seus nutrientes para completarem seu ciclo biológico.

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Lagartas: os principais insetos pragas da cultura da soja

Lagartas da Soja

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Dentre as pragas da soja, destacam-se as lagartas, classificadas cientificamente na Ordem Lepidoptera. Elas atacam as plantas de soja, milho e algodão desde a tenra germinação, podendo causar um grande prejuízo desde a fase inicial até a colheita, devido à mortalidade de plantas, aborto de estruturas reprodutivas e diminuição da produção de fotoassimilados devido a desfolha causada pela sua alimentação.

A identificação e o monitoramento da abundância de lepidópteros em áreas de produção é essencial para estabelecer uma estratégia de manejo eficiente e fazer o uso apropriado dos inseticidas. Além disso, conhecer as preferências das espécies por cada estado fenológico é de grande valia na elaboração de estratégias de controle.

Nutrição de Precisão na cultura da soja

Erros e acertos nas estratégias de combate às lagartas

O manejo de espécies de lagartas no cultivo da soja tem sido sistematicamente realizado pela pulverização de inseticidas sintéticos (organofosforados, carbamatos e piretróides), entre outras moléculas como spinosina e diamidas antranílicas). Também são realizadas aplicações da toxina Bt, além do uso de bactérias e fungos entomopatogênicos, importantes aliados tecnológicos dos cultivos de alto desempenho.

Entretanto a eficiência da pratica de aplicação de moléculas sintéticas tem diminuído devido à seleção de populações resistentes a esses compostos. O uso inapropriado de inseticidas no campo também tem contribuído negativamente para o aumento do custo de produção e a eliminação de inimigos naturais ao mesmo tempo que tem impactos negativos ao meio ambiente.

Entre os métodos alternativos de controle, o uso de biotecnologias como os organismos geneticamente modificados tem se destacado, como os materiais MON 87701 e MON 89788 que expressam a toxina Cry1Ac, conhecidos como materiais Bt. Esta toxina é derivada da bactéria de solo Bacillus thuringiensis (Bt), foi incorporada nos cultivos mais importantes, fornecendo uma estratégia de manejo de pragas com benefícios econômicos e ambientais.

Especificamente, no Brasil, os alvos da toxina Cry1Ac são a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis (Hübner, 1818), a lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens) (Walker, [1858]) e espécies da subfamília Heliotinae.

Entretanto, de modo similar ao que ocorreu com os inseticidas, a rápida adoção de materiais Bt sem o manejo apropriado ao redor do mundo, também tem causado forte pressão de seleção das proteínas Cry nas pragas, o que resulta na seleção de populações resistentes, com consequentes falhas no controle.

Três fatores chaves favorecem o sucesso das áreas de refugo: herança recessiva de resistência, baixa frequência de alelos de resistência, áreas abundantes de refugo, que se tratam de áreas não cultivadas com transgênicos Bt próximo aos cultivos Bt.

Programas de manejo de resistência para inseticidas químicos e Bt são cruciais e devem ser implementados com urgência para impedir a perda de produtos comerciais, o que fará mais difícil manejar esta espécie invasiva.

Conhecendo o inimigo

Complexo de espécies de lagartas do Gênero Spodoptera

Os sistemas de agricultura extensiva, envolvendo sucessão de culturas, principalmente soja, milho e algodão, a excessiva aplicação de defensivos, a presença de plantas invasoras em áreas adjacentes aos cultivos, aliados com o uso de métodos inadequados de manejo, tem levado à ocorrência de surtos populacionais de pragas antes consideradas secundárias.

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O complexo de lagartas de Spodoptera spp., tais como Spodoptera eridania (Cramer, 1784), Spodoptera cosmioides (Walker, 1858) e Spodoptera frugiperda (JE Smith, 1797), tem recebido atenção especial como pragas limitantes aos grandes cultivos nas regiões do cerrado.

As larvas de Spodoptera spp. tem sua importância econômica especialmente a partir do começo do estágio reprodutivo da soja, quando elas se alimentam das folhas e das vagens.

O ataque destas espécies também podem ocorrer em plantas recém germinadas, quando os instares mais avançados das lagartas cortam as plantas na proximidade do solo, causando danos similares aos causados pela lagarta-rosca, Agrotis ípsilon (Hufnagel, 1767) (Lepidoptera: Noctuide), causando redução no stand, que representa o número de plantas em determinada área. Este tipo de injuria está mais relacionada à áreas com prevalência de S. frugiperda.

No caso da soja, tem sido relatada baixa susceptibilidade de S. eridanea, S. cosmioides e S. frugiperda às proteínas Cry1Ac, gerando questionamentos importantes considerando o futuro do manejo destas espécies de lepidopteras com a tecnologia Bt.

Chrysodeixis includens a lagarta falsa-medideira

Pragas secundárias se tornando pragas de importância principal não se aplicam apenas ao complexo Spodoptera spp. Atualmente, a lagarta falsa-medideira, Chrysodeixis includens, tem sido considerada uma praga primária no Brasil.

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Sua ocorrência em todos os estados do Brasil, alta polifagia (175 espécies de plantas hospedeiras), o uso inapropriado de inseticidas e fungicidas, e resistência às medidas de controle usadas na soja, são fatores que tem contribuído para o aumento das populações deste inseto, fazendo dele uma das mais importantes pragas da cultura da soja no país.

Até o momento não foi encontrada resistência à proteína Cry1Ac em populações de C. includens no Brasil. Esta espécie apresenta alta suscetibilidade e baixa frequência de alelos de resistência ao Bt nas principais áreas de cultivo do país. É importante manter esta baixa frequência nas populações desta praga com a correta utilização das tecnologias Bt.

Helicoverpa armigera

A Helicoverpa armigera foi detectada inicialmente no Brasil no ano de 2013, com registros subsequentes no Paraguai, Argentina, Bolivia e Uruguai.  Desde então esta praga tem se tornado amplamente distribuída por toda a América do Sul, tendo sido recentemente detectada em Porto Rico e na Florida, nos EUA.

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Mesmo antes de ser detectada nas Américas, a H. armigera já era frequentemente relatada como uma grave praga agrícola com uma extensa gama de hospedeiros na Oceania e outros países do Velho Mundo. Os indivíduos desta espécie encontrados no Brasil dividem seu material genético com indivíduos da Ásia, Europa e Africa, sugerindo múltiplos eventos de invasão em terras brasileiras.

Esta espécie se tornou praga primária dos cultivos de soja e algodão sendo que suas larvas também causam danos na cultura do feijão, milho, sorgo e outras culturas no Brasil, atacando principalmente estruturas reprodutivas, como vagens em início de desenvolvimento. São mais polifagas (se alimentam de diferentes espécies de plantas) e tolerantes a inseticidas do que espécies nativas de lepidópteros. Portanto, desde que foi detectada, tem aumentado a frequência e as doses das aplicações de inseticidas assim como a adoção de materiais genéticos modificados contendo a toxina Bt no Brasil.

A resistência a inseticidas tem sido detectada em populações de H. armigera por todo o mundo. Até 2017 a Arthropod Pesticide Resistence Database possuía 763 casos de resistência a 49 diferentes ingredientes ativos, especialmente aos piretroides. As populações brasileiras desta espécie mostram alta tolerância a piretroides, portanto estes inseticidas não são recomendados no Brasil ou no restante da América do Sul, devido à alta capacidade de dispersão e fluxo gênico entre populações de H. armigera.

As sojas MON 87701 e MON 89788 que expressam a toxina CryA1 promovem altos níveis de controle contra a H. armigera e a frequência de alelos resistentes contra esta toxina são considerados baixos nas populações testadas. Estas condições satisfazem os requerimentos para um bom manejo da resistência aos cultivos Bt.

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